dos programas da manhã
Hoje na Rádio Comercial, no programa da manhã, que vou ouvindo quando eles não nos pedem para mudar para uma rádio histérica feita por imberbes ou quando saem do carro, o Nuno Markl anunciou uma nova rubrica que me soou bem, porque é um exercício que faço há muito tempo - como sabem e amorosamente aturam - e que é verbalizar e mostrar as 'coisas favoritas', inspirada na inspiradora música da Música no Coração. (bolas, como adoro este filme)
Importa-me reflectir, não sobre as coisas preferidas no Markl (desculpe-me o desinteresse) mas sobre o mote do programa: o filho estava com uma 'crise de pré-adolescência' e pensar em coisas bonitas foi a recomendação de um pai a um filho com pensamentos maus antes de dormir. espero que tenha resultado! e pedia-lhe, como mãe, que o levasse mais além, porque aquilo que diz o Nuno ou um locutor de rádio sénior, interessa, faz-se ouvir, chega longe.
O Nuno talvez não saiba, mas a saúde mental dos miúdos e adolescentes está em perigo, está por um fio, por um comprimido, por um x-acto ou por uma corda. as nossas mãos não chegam para os apelos que chegaram cá a casa durante a pandemia, as nossas mãos não chegam para segurar todos os frágeis e afagar todos os inseguros. os braços são poucos para abrir todas as janelas e deixar a paz entrar, para abraçar todos os aflitos. E a pandemia está prestes a terminar por um decreto mas a saúde mental ficou por curar. sem decreto, sem regra e sobretudo, sem reconhecimento do estado em que está... e está péssima.
As coisas mais insuspeitas acontecem, debaixo dos nossos narizes, apesar dos nossos afetos e de lhes cantarmos as nossas 'coisas favoritas'. enfim, o Nuno não tem culpa de nada e está claramente a fazer tudo bem feito. o filho falou com ele, pediu ajuda e talvez não o saibam, mas pode ter sido o suficiente para mudar uma vida. podia aproveitar para lançar o alerta, para sensibilizar os pais que vão nos carros, para explicar que os sinais são leves mas estão lá: unhas roídas, lutdas na escola, xixis na cama, pensamentos maus, olhares distantes e risos que ficam por dar. é tentador achar que a pandemia nos mudou mas que estamos todos bem, ou vamos ficar, mas não. não podemos reduzir e disfarçar a depressão a estado de espírito menos alegre.
não podemos cair nessa falácia de que vamos melhorar quando a pandemia acabar! porque já acabou e estamos ainda todos de saúde fraca, crianças que sentiram a tristeza e o medo pela primeira vez, que não sabem como lidar com isso, deprimem e nem sempre pedem ajuda. nós pais, temos que estar vigilantes, disponíveis, a nós e a eles. estamos doentes, mais do que nunca, mas não tem que ser para sempre.
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