do afinanço
o Tim diz nascer outra vez, fala-nos disso amíude, de voltar. mas eu estava ainda a afinar a alma, a voltar de um salto ao passado.
a propósito do Pai de alguém que morreu. quando faço
um estrugido ou queima uma torrada. quando leio uma tira do Calvin ou
tenho frieiras nas mãos. por tudo e do nada, penso sempre no meu Pai.
quando as orquestras afinam entro num vortex que me leva ao coreto em
frente à Câmara de Matosinhos ou à festa da Solha, onde ouvíamos a banda
preparar-se para um simples concerto de Domingo, e o meu Pai
balançava-se à espera, cigarro numa mão e a minha mão na outra. estas
pequenas merdices que nos abalam o coração e nos deixam em lágrimas são
do pior, tiram-nos o fôlego e deixa-nos de maxilar tenso e coração
dorido. então engolimos o choro, baixamos os olhos para o teclado ou
fechamos os talheres, seguimos com a vida e esperamos sempre que o momento passe com
menos dor e saudade na próxima lembrança. mas não passa nunca... e isto não
se explica a quem não perdeu alguém ainda. e esses não sabem ainda que
isto vai durar para sempre.
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