da generosidade

eu sou uma nostálgica, romântica, chorona... mas não estou triste quase nunca. Isso é bom. Há, no entanto, uma coisa que mexe comigo, que me revolta, que me leva às lágrimas e me deixa incomodada por demais, que me deixa profundamente triste. A pobreza. A fome. O desalento e a solidão. Há dias em que tenho vontade de tirar a roupa do corpo, a comida da boca, os anéis dos dedos.

Juntámo-nos algumas e conseguimos angariar umas coisas, porque na altura do Natal todos nos sentimos, embora mais pobres, mais generosos. E vamos na melhor das vontades carregados daquilo que já não serve para nós tentar fazer alguém menos pobre. E sinto sempre que não chegou para nada, que posso fazer muito mais, que devia fazer muito mais. Sinto uma culpa corrosiva de ter o que tenho, de ganhar o que ganho, de ir onde vou e ter quem tenho. Por que há efetivamente gente sem nada. E isso deixa-me triste.

Gostava de saber ajudar mais. De ter mais disponibilidade, de aguentar confrontar-me com estas coisas mais frequentemente. Confesso que às vezes fujo da pobreza e da infelicidade, atravesso a rua, mudo o canal, ponho a música mais alta ou prolongo-me mais numa montra. Sinto-me um nojo, iludida de que talvez hoje não tenha que me incomodar com isto. Sinto-me egoísta. E eu acho que sou muito generosa, mas acho também que há muito mais que podia fazer.


Isto da generosidade treina-se, ensina-se e aprende-se e torna-se intrínseco. É como tudo em nós I guess... Isto da generosidade (que vai além dos sorrisos) exige uma logística e uma disponibilidade que tenho ainda que criar, acomodar melhor na minha vida. E tenho que ter a esperança de que o pouco que faço tem que ser melhor que nada. Acredito nisso.



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