dos crescidos

Quando era miúda tinha pressa de ser grande, queria ser tão grande quanto parecia. Lembro-me de desde sempre acharem que eu era mais velha do que era. Nunca me incomodou. Nunca fiquei à porta do Twin's ou do Cais senão por solidariedade com alguém que estivesse comigo. Lembro-me de não ser olhada de lado quando fumava com 14 anos e lembro-me de passar por mãe (aí sim com alguma indignação!) do meu irmão mais novo.

Chegada aos 35 sinto-me finalmente adulta. Gozei tudo o que queria gozar sem filhos, depois tivemos os 3 que queríamos e já estou numa fase em que às vezes gostava de não os ter por uns dias (sinto-me total vaca a dizer isto, mas assumo as minhas vontades). Gostava de perder mais tempo a namorar, de acordar tarde, de sair com amigas, gastar dinheiro, poder chegar tarde a casa, a não me sentir tudo menos mulher. Pois, a maternidade é linda, mas não é perfeita. Tira-nos força, tira-nos iniciativa, dá-nos chatices e preocupações. Tira-nos meses de sono, dá-nos pneus e olheiras e brancas... Tudo isso e muito mais. Eu pecadora me confesso: às vezes tenho saudades de não ter ninguém. O saldo é positivo, naturalmente. Tenho as minhas fantasias, mas tenho também tudo o que quero, caso dúvidas houvesse. Adiante.

Chegada aos 35 sinto-me finalmente adulta. E percebo que o conceito de ser adulta é que tudo o que faço há-de ter um impacto em alguém. É essa a principal característica de crescer. Não que o que quer que fizesse antes não o tivesse, mas eu não o sabia ou não me incomodava. Agora tudo pesa em ponderação, tudo tem que ser reflectido e o impulso vai para o galheiro. Ou então redireccionamos os impulsos para outras coisas. Por exemplo, correr, ir a treinos de KickBoxing, beber gin antes do jantar porque posso, dar-me ao luxo de ir ao cabeleireiro só porque sim, escolher cores estúpidas para pintar as unhas, usar a roupa que me dá na gana e finalmente não me importar (muito...) com o que os outros pensam. Porque finalmente sabemos quem somos. Ou porque temos a força para lidar com o que somos, finalmente.

Ainda não tenho brancas à vista, acho que tenho algumas rugas e já não acho um horror pensar em cirurgia estética. Cresci e cheguei a termos com o que sou. Continuo com as minhas inseguranças, mas sou finalmente adulta.
Pela primeira vez acho que se percebe a idade que tenho e isso não me incomoda nem um pouco. Posso estar a cuspir para o ar, mas acho que daqui só melhoro, melhoramos todas. Melhoramos quando nos volta a cair a ficha que além de mães somos mulheres. E que só o deixámos de ser porque somos parvas. Eu fui, seguramente.

Se crescer é isto, eu sempre estive certa e no bom caminho. Quero ser crescida. Sempre.

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