das cesarianas

Que eu saiba tive quatro gravidezes na vida.
A primeira foi um ápice, era todo um mundo novo. Ainda não tinha tido contacto com muitas gravidezes, e por isso ainda vivia na ideia de que jamais quereria um parto normal. Acho uma coisa meia selvática, odiava pensar em todos aqueles líquidos, sangues, barulhos e odores e sempre disse que era porem-me a dormir, tirar os bebes e acordar-me depois de lhes darem banho.
Sempre disse, até ao dia em que deixei de dizer.
Chorei pouco na primeira, a X. Chorámos quando soubemos, depois chorei quando ouvi o bater do coração e depois chorei quando soube que tinha que ser uma cesariana (nem queria acreditar em mim). Aquilo tudo que eu sempre idealizei e que só percebi que não queria quando não tive alternativa. A X. estava alegremente sentada, às 39 semanas não tinha a minima intenção de sair, não se manifestava, esperava sentada que a tirássemos. E assim foi. Recuperei bem, não sofri horrores, mas senti durante muito tempo o ardor na cicatriz e o orgulho ferido por não ter tido um parto normal.

A segunda não deu em nada.

A terceira foi o nosso querido B. Também chorei nos momentos chave: teste, coração, parto. E combinámos com os nossos 5 médicos que sim, que iríamos tentar um parto normal. Yes, lets go with a VBAC dissemos todos. Dissemos até às 38 semanas, quando o B. me deu o prazer de saber o que eram contracções, quando nos encheu o estômago de borboletas e nervoso miudinho. Entrei no tal trabalho de parto, saímos de mala para o Hospital e lá disseram: hmm, não se passa nada, vá para casa e espere. Ainda fomos trabalhar, e passadas umas contracções lá voltámos, certos de que teria chegado o momento. Não dilatei, o puto estava claramente agoniado e era assustador  ouvir a descida do batimento a cada contracção que tinha. Numa das últimas, sabendo que estava zero dilatada, convecemo-nos de que o VBAC já era... plano furado. Entra o anestesista e diz: he needs to come out. Segunda cesariana. Mais dores, mais tempo a recuperar, mais ardor na cicatriz. Mais uma vez o orgulho de fêmea ferida que não teve sucesso na procriação. Se fosse uma cadela ninguém se tinha safado...

A quarta foi o L. Também houve choro em quase todos os momentos chave, mas saltei a parte de chorar quando o médico disse, logo na primeira consulta: já sabe que terá que ser uma cesariana, certo?... não houve margem para discussão. Houve sim uma gravidez mais pesada, mais cansativa. Guardei o choro para quando não pude pegar nos meus filhos nascidos ao colo, quando não lhes pude dar banho. Quando não pude trazer as compras do carro, quando não pude gozar a minha intimidade livremente, quando tudo mudou porque já tinha duas cesarianas em cima. E pensar que antes de tudo eu achava que era o que eu queria. Triste ilusão... E a recuperação, ui, nem vou por aí!

Hoje em dia percebo alguma ingenuidade, como eu a tive, mas alerto para as cesarianas. Mulheres: woman up! e tenham partos naturais tanto quanto conseguirem. Esqueçam as agendas dos médicos, os feriados nacionais e as fotografias mais giras porque os putos nascem menos ovais e vermelhos!
Acho mesmo que ainda há quem viva iludida do que está realmente em jogo. Vai tão além de uma cicatriz, linda - é certo - que trazemos... É a abstinência sexual prolongada, são as dores alucinantes da subida do leite, os gases com que todos se preocupam nos bebés mas que a nós nos matam e ninguém liga, a prisão de ventre. O ardor, bolas, o ardor, o risco dos pontos infetarem, o risco da anestesia correr mal, o não me poder rir à vontade por que todo o corpo me dói e não conseguir entrar e sair da cama sem precisar de uma grua. O não poder pegar nos meus filhos num momento que só por si já é difícil para eles com a nova criatura lá por casa... E tudo a aumentar conforme as cesarianas que vamos fazendo!

Tenho cá para mim que o factor derradeiro para não ter mais filhos são mesmo as cesarianas, é o medo de correr tudo mal porque fiquei com um útero tão fino como papel, o medo de ficar na sala de operações e o medo de ter que sujeitar os meus filhos e o meu marido (e eu, e nós) a isso. A certeza de que seria uma gravidez passada na cama ou lá perto. A quase certeza de que já nem esperariam (os médicos) pelas 37 semanas para me tirar a criança. O risco do bebé ter pulmões subdesenvolvidos, de ter tudo pouco maturado e apurado porque tive que a sacar à pressa ... E tudo por causa das cesarianas.

Abril é o mês da c-Section awareness, e valia a pena falar disto. Vale a pena saber, pelo menos, do que se trata...

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