do tempo
20.49pm
sento-me na varand
recomeço (alguém pediu leite!)
20.54pm
volto a sentar-me na varanda e respiro fundo. Olho para uma pilha de roupa que cheia de intenções recolhi para dobrar enquanto vejo o Grey's Anatomy e porque já tinha outra máquina para pendurar. Sei que não vai acontecer. Provavelmente quando começar o Grey's Anatomy vou estar ainda a acabar de fechar as caixas da roupa de inverno, vou lembrar-me que não pus detergente na máquina da loiça e que deixei umas coisas ainda por arrumar.
Há dias em que me apetecia boicotar esta coisa de ser mãe, de ser de alguém... Só alguns.
Noutros apetece-me boicotar a mania de que posso tudo, de que tenho que dar sempre o meu melhor em tudo e ainda assim servir de pouco ou nada. O apreço anda pela rua da amargura, fica no ar suspenso, à espera de um momento oportuno para todas as partes. E os momentos raramente vêm e até lá as pessoas ficam moídas, a remoer nas coisas. Começam a questionar para que é que serve o que fazem, se vale a pena o esforço e a dedicação. Se as horas de Grey's Anatomy valem as horas em frente a uma tabela ou a disparar emails que durante o dia não tiveram tempo de tratar.
Eu já troquei, com gosto, demasiadas séries... e depois deixei de trocar por que a troca não era justa. E agora troco de novo, sem gosto, porque percebo que não há troca, não há acordos, não há nada senão a cobrança daquilo que não pode ser feito porque não deu para mais. Há expectativas que nós mesmos criámos e que depois, quando não as conseguimos manter cai tudo e já não somos sequer avarage, somos below. Sabemos no nosso íntimo e sem modéstia que nada mudou, que é a mesma cabeça que pensa, os mesmos braços que carregam, as mesmas mãos que escrevem e a mesma voz que fala. Mas menos, porque o tempo é uma coisa lixada e a gestão do mesmo é mais lixada ainda.
Continuo a olhar para a minha pilha de roupa. Pondero se vá jantar, se arrume com a roupa de uma vez ou se desça para tratar das caixas. Ou se fico aqui. Se paro com lamúrias e faço o que não tenho que fazer mas que tem que ser feito. Mas este é o pouco do meu tempo que tenho tido.
(olhei para cima: regar as plantas).
Já arranjei a 5ª. Claro que estou em delírio só de pensar que posso voltar a escolher trabalhar, ir correr, ir às compras ou jogar CandyCrush. Posso voltar a ter o meu tempo. Faço planos na minha cabeça para acabar 2 ou 3 projectos pendentes que fui adiando, porque, já se sabe, o tempo é uma coisa lixada. Sim, amanha estou de volta. Retemperada, com disponibilidade mas sem qualquer entusiasmo, sem qualquer motivação. Sei que quando tiver o tempo vou recuperar tudo o que tem ficado pelo caminho, mas já vou deixando pedaços por lá há algum tempo....
21.08pm
espreito lá para dentro e sinto que os miúdos já adormeceram. Daqui a um bocado posso descer... Até lá vou saltar para a janela do lado. Vou adiantar porque amanha não vou ter tempo (sempre a merda do tempo), vou alinhavar umas coisas para começar a eito e não parar mais.
Se eu conseguia fazer tudo sozinha? Conseguia, mas não era a mesma coisa...
sento-me na varand
recomeço (alguém pediu leite!)
20.54pm
volto a sentar-me na varanda e respiro fundo. Olho para uma pilha de roupa que cheia de intenções recolhi para dobrar enquanto vejo o Grey's Anatomy e porque já tinha outra máquina para pendurar. Sei que não vai acontecer. Provavelmente quando começar o Grey's Anatomy vou estar ainda a acabar de fechar as caixas da roupa de inverno, vou lembrar-me que não pus detergente na máquina da loiça e que deixei umas coisas ainda por arrumar.
Há dias em que me apetecia boicotar esta coisa de ser mãe, de ser de alguém... Só alguns.
Noutros apetece-me boicotar a mania de que posso tudo, de que tenho que dar sempre o meu melhor em tudo e ainda assim servir de pouco ou nada. O apreço anda pela rua da amargura, fica no ar suspenso, à espera de um momento oportuno para todas as partes. E os momentos raramente vêm e até lá as pessoas ficam moídas, a remoer nas coisas. Começam a questionar para que é que serve o que fazem, se vale a pena o esforço e a dedicação. Se as horas de Grey's Anatomy valem as horas em frente a uma tabela ou a disparar emails que durante o dia não tiveram tempo de tratar.
Eu já troquei, com gosto, demasiadas séries... e depois deixei de trocar por que a troca não era justa. E agora troco de novo, sem gosto, porque percebo que não há troca, não há acordos, não há nada senão a cobrança daquilo que não pode ser feito porque não deu para mais. Há expectativas que nós mesmos criámos e que depois, quando não as conseguimos manter cai tudo e já não somos sequer avarage, somos below. Sabemos no nosso íntimo e sem modéstia que nada mudou, que é a mesma cabeça que pensa, os mesmos braços que carregam, as mesmas mãos que escrevem e a mesma voz que fala. Mas menos, porque o tempo é uma coisa lixada e a gestão do mesmo é mais lixada ainda.
Continuo a olhar para a minha pilha de roupa. Pondero se vá jantar, se arrume com a roupa de uma vez ou se desça para tratar das caixas. Ou se fico aqui. Se paro com lamúrias e faço o que não tenho que fazer mas que tem que ser feito. Mas este é o pouco do meu tempo que tenho tido.
(olhei para cima: regar as plantas).
Já arranjei a 5ª. Claro que estou em delírio só de pensar que posso voltar a escolher trabalhar, ir correr, ir às compras ou jogar CandyCrush. Posso voltar a ter o meu tempo. Faço planos na minha cabeça para acabar 2 ou 3 projectos pendentes que fui adiando, porque, já se sabe, o tempo é uma coisa lixada. Sim, amanha estou de volta. Retemperada, com disponibilidade mas sem qualquer entusiasmo, sem qualquer motivação. Sei que quando tiver o tempo vou recuperar tudo o que tem ficado pelo caminho, mas já vou deixando pedaços por lá há algum tempo....
21.08pm
espreito lá para dentro e sinto que os miúdos já adormeceram. Daqui a um bocado posso descer... Até lá vou saltar para a janela do lado. Vou adiantar porque amanha não vou ter tempo (sempre a merda do tempo), vou alinhavar umas coisas para começar a eito e não parar mais.
Se eu conseguia fazer tudo sozinha? Conseguia, mas não era a mesma coisa...
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