dos reality check

Há alturas em que a realidade faz conluio contra nós, tipo, vamos dar-lhes um reality check, um alerta, um aviso, vamos mentalizar a gaja... e consegue!
Numa semana que se adivinhava mais calma, já quase em esquema de férias, nada como haver malta a ficar doente. Começa assim, de mansinho, a semana passada o B. e nesta o hubby e depois o L. A febre sobe aos 40ºC, alteram-se os programas, refazem-se as prioridades. Esta semana é aquela em que toda a equipa (módica quantia de +-180 pessoas) se retira na tórrida Beja. E nós vamos e levamos miúdos, que por sinal, esperam o ano inteiro por isto...
Não é grave, só chato, o hubby e o L. ficam para trás, a apanhar penicilina no rabo, a curar as amigdalites e a ter tempo de bonding. Eu parto com os mais velhos, afinal são só 2 dias e tenho mesmo que ir.

Rola tudo na quase-normalidade. Até cerca das 2.30 da manha quando recebo uma mensagem: estás acordada? (isto não pode ser bom sinal, o gajo nem é destes flirts por mensagens, passa-se alguma coisa!! ) depois de eternos segundos à espera da resposta ao que se passa, lá percebo que está com uma cólica renal, sozinho com o L. em Lisboa, que vai acabar num hospital a passar a noite e que não consigo por-me em Lisboa em menos de 1h30. Tenho uma fúria porque já estava com dores há algum tempo mas não lhe pareceu pertinente avisar-me. Que até já estava drogado, que lhe ligasse dali a 1/2 hora só para ver se estava tudo OK?! Estava claramente drogado e com falta de clarividência, nada no plano dele fazia sentido... e eu na tórrida Beja.

Faço uma lista, primeiro, ainda em desespero, só de contagem de cabeças. Conto 6. Quem é que vou acordar a esta hora? Depois organizo-me na meia hora em que tinha que esperar para lhe ligar de volta (que plano idiota!)... começo com critérios: idade, distância, probabilidade de estar acordado, lucidez em estado de sobressalto, amigos. Começo a reduzir a lista. Começo pelo meu irmão, apesar da distância ser a maior. Não responde à mensagem, nem sequer atende o telefone. Depois o R. que também não lê a mensagem e a esse não queria estar a ligar porque sei o quão cansado está (viva as notificações de leitura do whatsapp). Ataco em simultâneo as pessoas 3 e 4. A A. e o P. Respondem em uníssono à mensagem e eu choro de alívio. Não me vai quinar o marido nem ficar a criança aos gritos até eu chegar a Lisboa. Tratamos da logística, peço ao combalido que deixe já a porta aberta não vá desmaiar ainda com o P. a caminho, penso se chame já o táxi ou se ele ainda está capaz. Em poucos minutos o P. está lá em casa e debatemos se durma no sofá ou na cama, se o L. ficou com ou sem fralda,  afinal quantos filhos estão em casa?... Ele descontrai-me e faz umas piadas que valem por tudo, a A. diz-me que não peça desculpa, que somos família. Não sei ainda como lhes agradecer, mas lá chegarei... E em menos de 1 hora estou quase pronta para adormecer.

Não me impede o desespero, não me impede a incerteza porque já no hospital está bem tratado e o L. não podia estar melhor entregue, não me impede o cansaço porque ele estava lá, debaixo dos olhos inchados. Impede-me uma constatação triste, o tal reality check. O conceito de que, mais do que me sentir sozinha, o estamos efetivamente. Porque quando as pessoas que me atrevo a incomodar num momento de aflição não são mais do que os dedos de uma mão, isso quer dizer que estamos sozinhos ou quase sós. Valha-nos a mão cheia de poucos, mas bons. Obrigada!

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