da revolução

Uma salva de palmas. Um abraço solidário. Um grito de camaradagem a todas as mulheres. Porque merecemos. E porque temos que ser umas para as outras.
Como é sabido ficámos sem empregada há já algum tempo. Achei que tinha a cena controlada, que não ía ser o fim do mundo. Não foi, mas há dias em que anda lá perto. Por que há coincidências infelizes do estilo muito trabalho, horários tardios, crianças doentes, despensas vazias e de repente dou por mim a não recusar um pirex de bacalhau ou um tupperware de sopa que me voluntariam (obrigada mesmo). Não o meu orgulho, mas a mentalização de que sozinha não posso doeu-me e fez-me ter cenas mesmo à gaja de ir chorar para o quarto de banho. Claro que tudo tem uma importância relativa e um timing mais ou menos lixado, e claro que não estou sozinha, mas estas últimas semanas deram-me uma coça valente...

Deram-me que pensar. Muito. E muito nas mulheres que realmente o fazem. Havia de ser pior na geração dos nossos pais, mas os tempos que vivemos agora são de uma injustiça cruel. Nós, mulheres, subimos na vida, deixámos de ficar em casa, lutámos por isso, ganhamos dinheiro, temos cursos e emprego, tirámos carta de condução e sabemos trocar pneus. Sim, temos uma licença depois de criar pequenos seres que nos destroem os corpos, e continuamos, feitas idiotas, a arranjar tempo e cabeça para estarmos giras, irmos ao ginásio, sofrer na depilação, carregar mercearias de tacões, fazer jantares, escolher roupas para os miudos (com eles aos gritos atrás de nós)... Temos cabeça e tempo para tudo, há dias em que não temos os tomates e o coração.

Gostava de começar uma revolução histórica. Daquelas que mudam a vida da gente. Uma em que as mulheres se orgulhassem, no mínimo, dos seus achievements. Que se congratulassem mutuamente, sem julgamentos, que tivéssemos a ousadia de mandar os maridos dar uma volta quando começam com tangas... com discursos irritantes de que o trabalho deles é mais importante do que qualquer outra coisa, e que super engenheiros, economistas, médicos e austronautas não sabem ligar uma máquina de roupa ou não ficam tristes. Que se rissem das desculpas de que não sabem organizar papéis, comprar presentes para os filhos darem nas festas, escolher roupa para a mulher ou simplesmente estar sem fazer nada, porque isso não lhes está no sangue. Que exigissem dos homens um obrigada (porque contrariamente ao que julgam, há coisas que não são nossa obrigação e que não é a ordem natural das coisas que sejamos nós a fazê-las!). Que não gozassem com os homens que efetivamente partilham das tarefas que afinal são de todos e que não fizessemos comentários (só inveja!!) de que elas os têm nas palminhas... Elas estão no bom caminho!

Façam-se mais homens e ajudem-nos ou aprendam a dar valor ao que têm. Agradeçam, elogiem, estimem. Ajudem. Ou estejam disponíveis (com sorte somos daquelas que até preferimos fazer nós e vocês nem têm que se mexer e ficam bem na fotografia) E acima de tudo, não esperem louvores se o fizerem porque nós não os temos! E não venham cá com cobranças porque levam anos de crédito...

Façamo-nos mais mulheres e reclamemos de volta o direito a sermos menos espertas, menos trabalhadoras, menos desocupadas. Mais mulheres, mais Mães, mais inúteis, mais namoradas e tontinhas que não percebem nada, mais românticas, mais atrevidas, mais fracas e com dramas domésticos e ciumeiras...

Estou esperançada de que um dia cheguemos a qualquer coisa como isto. Não vou pedir abaixo-assinados (para tiros nos pés basto eu!) mas pensem nisso.

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