dos dias (...)

Desde sempre (e acho que para sempre) tive a curiosidade de saber como são as outras casas, como estão decoradas, quem está nelas, que música se ouve por lá. Sempre espreitei descaradamente em janelas de cortinas abertas e por portas entre-abertas. Sou só eu?... Não me acho propriamente uma cusca, raramente me interessa a vida das outras pessoas a não ser que eu ou elas tenhamos um impacto qualquer pelo facto de o saber.
Mas o certo é que, como gostaria de ver as casas, gostaria de ver a alma das pessoas! Saber o que vai n'ela... Pensando bem, penso que quando escrevo é isso mesmo que se passa, eu digo o que vai n'alma e pronto, fica já do lado de fora. Não ensino nada a ninguém, não faço grande diferença, mas a mim conforta-me esta forma de expressão. Não se trata de um diário, nem sequer de um relato completo daquilo que é a minha vida porque há coisas que ficam por cá, por mim, por nós, há coisas que se sentem mas não se escrevem num blog. E tenho visto e/ou ouvido blogs em que é tudo tão útil e/ou tão perfeito que me faz pensar se se achará que é tudo assim: paz e harmonia?...

Não é! Já o disse, há dias de merda, há dias em que pouca coisa corre bem e em que o consolo que temos é o de saber que há saúde e comida na mesa. Há dias em que estamos tristes, e os motivos podem ser tão variados e tão fortes para mim e no entanto irrelevantes para outra pessoa. Lidamos constantemente com as nossas expectativas (pra além das dos outros!) e todos os dias os standards mudam, são mais ou são menos, e andamos ao sabor de coisas que não controlamos.

Há dias em que me incomoda não ser magra, ter a pele bestial e os dentes alinhados! Vou correr e uso isso como combustível, mas depois há os dias em que estou bem em mim e na minha pele e não me faz diferença o peso extra ou a borbulha no queixo, porque estou segura daquilo que sou, mas há dias em que não!

Há dias em que estou nostálgica, como ontem, quando perdi 15 minutos a ver casas em Durham e quando me bateu uma vontade tão grande de lá voltar e ficar e viver. De sair daqui, para lá. E depois chego a casa e já nem me lembro disso.

Há dias em que tenho a paciência com níveis negativos e não posso aturar ninguém nem a mim mesma. Há dias em que tenho inveja, pura inveja, dos livres de pensamento e acção, dos descomprometidos e solteiros, dos inúteis ou dos fortes, dos corajosos, dos que viajam, dos sem filhos ou dos com muitos filhos. Há dias em que me falta qualquer coisa ou em que tenho qualquer coisa a mais. Há dias em que tudo é perfeito e acabam em grande, há outros em que me deito insatisfeita com a vida que tenho mas sem argumentos para tal e por isso não se fala. Porque racionalizamos as emoções e esquecemo-nos de que não passam disso: de emoções e por isso não têm que ter lógica, só perspectiva...

Há dias em que a minha vida é cheia e grande e tão bestial, há dias em que é assim-assim, conformada estou quando na verdade queria estar feliz. Porque sou feliz, mas nem sempre o estou. Precisarei de falar com alguém sobre isso? Sou só eu, ou ninguém fala disso e todos têm realmente uma vida perfeita? Ou se calhar é uma coisa de gaja? Ou nem por isso mas não se fala do assunto? e então eu falo, afinal, demais...

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