do ventilador
Houve uma altura em que este blog vivia, de facto, no anonimato. Dava-se com outros blogs, mas nada de íntimo e pessoal. Não víamos caras, não tínhamos amigos comuns, não sabíamos nomes. E eu estava a 6000km de distância o que facilitava bastante este ser sem mossa. Depois fiz uma pausa, arrumei a minha vida, voltei para PT, tive mais filhos, mudei de casa, emprego, cidade. Mudei muito e muita coisa. E este blog mudou também.
Nunca o escrevi para ensinar nada a ninguém, para fazer amigos ou ser uma famosa blogger. Não pretendo que alguém se identifique comigo ou que faça uma partilha do que quer que seja. Escrevo porque que é a melhor forma que tenho de me exprimir, escrevo porque não quero esquecer, escrevo porque preciso muitas vezes de ventilar e assim não chateava ninguém.
Todos precisamos de ventilar para qualquer lado ou com alguém. E estar entre os "nossos" tanto torna isso complicado [porque ventilamos sobre pessoas e coisas que nos são comuns] como facilita bastante em outras ocasiões [precisamente porque é sobre coisas, pessoas comuns] e sabemos que alguém nos vai apoiar ou mandar dar uma volta.
De tudo o que me faz falta da minha outra vida, esta é uma das coisas que há alturas em que sinto mais falta. Posso ir comer francesinhas à Casa do Porto, olhar para o Tejo e fingir que é o Douro, posso ir ao Porto visitar a minha família, posso estar no whatsapp e falar com amigos, mas em poucas alturas consigo ventilar. Em semanas como as recentes, particularmente difíceis e emocionais, eu senti o ridículo da familiaridade deste blog, porque nem tudo é descritível, nem de todos podemos falar, nem tudo devemos contar.
Já não posso vir para aqui falar (ou queixar) de trabalho, de casa, da família, dos amigos, estão muitos por cá (obrigada!). E já ando aqui a debitar as minhas parvoíces que chegue. Não posso ligar porque há coisas que não se expressam por telefone. E muitas vezes só precisamos é que alguém esteja connosco, em silêncio, sem fazer perguntas, sem levantar ondas, sem puxar conversa, só estar e deixar-nos debitar qualquer coisa se e quando quisermos. E aturar os gritos que dermos, as fúrias que tivermos, os meltdowns que não controlarmos... Não tenho muito disso por aqui, um ventilador.
Todos precisamos de um ventilador, de vez em quando, e quando não está na hora certa no sítio certo então o que precisávamos de ter tirado de nós não sai, fica nas coisas que não se diz e nas palavras que não se escreve. E tanto sentimento transpira sem actos e palavras... Todos precisamos de alguém alheio a parte da nossa vida, alguém de outra dimensão - e vocês já não o são. (sem dramas ãh? que isto é um elogio)
Outro dia falava com o A. sobre isto (mais ou menos) e ele dizia: como sentes-te sozinha? estiveste com os miúdos até agora... ri-me para não lhe bater. e percebi que esta é uma ideia muito mais geral do que eu imaginava. Mas há realmente quem ache que crianças, colegas, empregadas, maridos, ou mulheres são companhia que chegue para não nos sentirmos sozinhos?! bem digo que não há nada pior do que alguém se sentir sozinho rodeado de gente. Acredito que as mulheres, mais do que os homens, pensem demasiado nestas tretas, mas que há por cá dias assim? há.
Nunca o escrevi para ensinar nada a ninguém, para fazer amigos ou ser uma famosa blogger. Não pretendo que alguém se identifique comigo ou que faça uma partilha do que quer que seja. Escrevo porque que é a melhor forma que tenho de me exprimir, escrevo porque não quero esquecer, escrevo porque preciso muitas vezes de ventilar e assim não chateava ninguém.
Todos precisamos de ventilar para qualquer lado ou com alguém. E estar entre os "nossos" tanto torna isso complicado [porque ventilamos sobre pessoas e coisas que nos são comuns] como facilita bastante em outras ocasiões [precisamente porque é sobre coisas, pessoas comuns] e sabemos que alguém nos vai apoiar ou mandar dar uma volta.
De tudo o que me faz falta da minha outra vida, esta é uma das coisas que há alturas em que sinto mais falta. Posso ir comer francesinhas à Casa do Porto, olhar para o Tejo e fingir que é o Douro, posso ir ao Porto visitar a minha família, posso estar no whatsapp e falar com amigos, mas em poucas alturas consigo ventilar. Em semanas como as recentes, particularmente difíceis e emocionais, eu senti o ridículo da familiaridade deste blog, porque nem tudo é descritível, nem de todos podemos falar, nem tudo devemos contar.
Já não posso vir para aqui falar (ou queixar) de trabalho, de casa, da família, dos amigos, estão muitos por cá (obrigada!). E já ando aqui a debitar as minhas parvoíces que chegue. Não posso ligar porque há coisas que não se expressam por telefone. E muitas vezes só precisamos é que alguém esteja connosco, em silêncio, sem fazer perguntas, sem levantar ondas, sem puxar conversa, só estar e deixar-nos debitar qualquer coisa se e quando quisermos. E aturar os gritos que dermos, as fúrias que tivermos, os meltdowns que não controlarmos... Não tenho muito disso por aqui, um ventilador.
Todos precisamos de um ventilador, de vez em quando, e quando não está na hora certa no sítio certo então o que precisávamos de ter tirado de nós não sai, fica nas coisas que não se diz e nas palavras que não se escreve. E tanto sentimento transpira sem actos e palavras... Todos precisamos de alguém alheio a parte da nossa vida, alguém de outra dimensão - e vocês já não o são. (sem dramas ãh? que isto é um elogio)
Outro dia falava com o A. sobre isto (mais ou menos) e ele dizia: como sentes-te sozinha? estiveste com os miúdos até agora... ri-me para não lhe bater. e percebi que esta é uma ideia muito mais geral do que eu imaginava. Mas há realmente quem ache que crianças, colegas, empregadas, maridos, ou mulheres são companhia que chegue para não nos sentirmos sozinhos?! bem digo que não há nada pior do que alguém se sentir sozinho rodeado de gente. Acredito que as mulheres, mais do que os homens, pensem demasiado nestas tretas, mas que há por cá dias assim? há.
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