da minha Mãe

Aquilo que eu não sei ainda, vou sempre a tempo de aprender. Só preciso de estar perto dos mestres.

Alguns já terão percebido, a outros já o terei dito abertamente, outros não perceberão nunca, mas de há uns meses para cá, assim de cabeça, há uns 12, custa-me ir ao Porto, umas vezes mais que outras. Só recentemente comecei a controlar as lágrimas gordas que querem cair quando passo as portagens. Houve alturas em que entrei na A1 com todo o entusiasmo e depois de passar Aveiro começo a ter uns calafrios e ao passar a portagem já só me apetece voltar para trás... Arrebito as costas e penso que não há-de ser para sempre. Sacudo as lágrimas e lá vamos. Mas muitas vezes vou de cara feia.

Não consigo que seja de outra forma, e juro que tento, mas quando dou por mim já perdi a oportunidade de me corrigir e explicar que não é nada de pessoal, que são só saudades do meu Pai, da minha Familia, dos meus amigos e que os quero muito mas não ali. 

E depois em fins de semana como este ponho os olhos na minha Mãe e cai-me a ficha. Como é que ela consegue tanto e eu nem passar da portagem em condições? Ponho os olhos na minha Mãe e vejo-a a limpar as lágrimas entre coser credenciais do querubim na farda, ou assoar o nariz antes de virar os 5 kilos de fiambre que prepara há 2 dias. Quando fecha os olhos e suspira com os bebés que embala.

E depois, de sorriso posto, abre a casa a quem vem, de braços abertos e palavras queridas. E manda vir mais por que quer a casa cheia e as pessoas felizes. E eu ainda não aprendi a fazer aquilo que ela faz tão bem, que lhe vem de dentro e que não sabe sequer que o faz - o ser boa, o ser realmente santa.
Na amarga ironia do aniversário do meu Pai morrer calhar ser o dia de Páscoa eu só queria fechar-me. Não dormi, como não durmo nas vésperas, nada de jeito e às 8h20 acordei e contei os minutos para ver a minha Mãe entrar no quarto. Enchi o peito e galopou o coração enquanto esperava. Passei por tudo outra vez. Mas não entrou.

E eu ganhei a força de me levantar, ir à cozinha e ver a minha Mãe já a adiantar qualquer coisa para o almoço.
Agarro a chavena e atesto de café. São 8h30 da manhã e ambas sabemos que a esta hora o telefone tocou há 1 ano e tirou-nos o fôlego. E chorámos juntas, sem palavras, sem conversas até o apito do microondas nos desabraçar. E percebi então que nunca aquela casa vai ser a mesma, mas que nós somos. As mesmas. E eu só almejo ser mais como ela, a minha Mãe.

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