do meu Pai

Nos dias de coisas, apesar de não gostar do lugar-comum, acabo sempre por me manifestar. Por que se há #diasdecoisas é precisamente para nos lembrar e dar um croque na cabeça para não nos esquecermos daquilo que é importante.
Como se imagina, não precisaremos disso para nos lembrarmos dos nossos pais, mas não consigo deixar de aproveitar, também este dia, para a lembrança que tenho. E hoje, não abrandando nas montras a ver canetas Parker, nem querendo ser do contra nem do lugar comum, não consigo entrar no esquema do "meu Pai é melhor que o teu", mas consigo ainda assim, escrever.

O meu Pai não era melhor que muitos nem pior que muitos mais, não tinha muito de exemplar para quem o via do lado de fora, pendurado na sua janela e sentado na sua pedrinha.

Com tempo tenho percebido que o que o meu Pai mais terá sido foi isso mesmo, Pai.

Era o mais que tinha para nos dar e num jeito meio bruto, deu-nos muito. Deu-se a si, como era, com as falhas e com os defeitos, mas com toda a ternura que só ele tinha e só nós conhecíamos. Poucos de fora se poderão gabar disso, lembro-me de repente de 3 ou 4 sem ser da Esplanada a quem o meu Pai dava o carinho de dentro, o genuíno. Deu-nos estalos, mas deu-nos abraços mais apertados e longos. Deu-nos gritos mas tantas vezes nos deu palavras de consolo. Deu-nos chatices mas deu-nos sempre protecção mesmo daquilo que não devia. Foi meu confidente apesar de saber que era péssimo a guardar segredos, mas era bom a minimizar o drama, a relativizar o caos que alguma coisa nos parecia ser e a passar os recados de uma forma mais suave. Com ele nada parecia tão grave...

Gostava de mais pessoas do que aquilo de que se gabava gostar, fazia gala de ser um mal-disposto, não queria ir mas queria ser convidado, e quando ia queria vir embora antes de todos ou só já no finzinho. Não era perfeito, de todo, mas ninguém o é, e se em muita coisa sou parecida com ele, só me resta esperar que os meus filhos levem de mim o que levei do Pai. A saudade constante e a certeza de que gosta de mim e eu dele, assim como somos.


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