das 2549


2549 fotografias no telemovel. este retiro seria uma boa altura para um limpeza, uma selecção. não quero cair na asneira de trabalhar pois não tarda não vou saber sequer em dia da semana estou... por isso começo uma vaga de limpezas que não levantem pó. e esta, ironicamente, é todo um vendaval. percebo que não quero apagar uma única fotografia. quero todas: as replicadas, as más, confusas, sem sentido, quero todas. porque as tiro todas com sentido, porque gosto de lá voltar, ver com calma o que não vi na primeira vez, reparar em detalhes, quase que ouvi-las, voltar aquele lugar, matar saudades, aprender coisas.

E num scrolling demorado, a dançar entre o delicioso e o doloroso, percebo que sou do toque. talvez saia à minha Mãe que tanto gozamos lá em casa porque lê as etiquetas do supermercado como se fossem em braille... desculpe Mãezinha, eu percebo-a. mas sou mais tola ainda, eu registo. e tanta coisa bonita que tenho aqui.

há fotografias de que me lembro ainda da temperatura, do áspero, do bufo de irritação de quem estava ao lado, do olhar curioso de quem estava à frente, lembro-me de tudo, e fico contente por tê-lo comigo agora. por não me medir e poupar de tocar.
não sou uma fanática da natureza, da contemplação, do verde e do azul, sou também do cimento, da ferrugem, da suavidade, do frio e do quente, do urbano, do som. e registo essa parvoeira de gostar de tocar. e mais do que nunca fico contente por ter em mim esta mania, porque o motivo de chacota ou incompreensão de alguns, é agora o consolo que tenho, é onde mergulho os pés e sinto de novo o frio, a liberdade, o lodo, o sol, sinto(-me) de novo.