da coragem

no meio da surpresa do convite para escrever, no meio do entusiasmo, dissolveu-se o custo de o fazer.

ainda debati discretamente o assunto, argumentei com alguns factos históricos, mas não se convenceram do quão má ideia pode ser esta história de sair ainda mais de mim. resolvi deixar o assunto cair em esquecimento. não explorei mais o convite, ficou suspenso num filme que tenho ainda que ver. mas de todo o modo ficou aberta a discussão sobre a possibilidade de eu sair mais de mim, de ir mais longe. 

continuo a achar que não estarão ainda preparados para algumas coisas aparecerem preto no branco, serem ditas a quem estiver a ler, sem cerimónias, sem vergonha, com convicção. não tenho feitio para ser ficção, o que escrevesse seria meu, alma minha, gosto meu. e nem tudo se pode assumir assim levemente e sair impune, não julgada e criticada. e sinceramente, aos 41, já não sei se me apetece aturar desaforos fofocas e julgamentos... e há coisas que não se dizem sem alguém sem ofender ou envergonhar. 

vou fazendo pequenos testes, vou puxando de algumas ideias a ver como caem nos outros - contei uma mão cheia de temas que seriam pequenas granadas, pequenos testes. 

suponho que se trate de ter coragem. coisa que tenho pouca. recordo-me de ter ganho imenso lanço para alguns jogos e de te me ter faltado o fôlego a meio, quando o confronto com nós mesmos e com quem nos rodeia se torna mais íntimo, mais transparente. 

we're not really strangers, but we are clearly not fully aware of who we are.