das mesas

Ontem, em pressa pré-isolamento fui ao ikea tratar de uns tarecos que faltavam para as mudanças de quartos dos  miúdos. e falei com a minha amiga sobre os casos feito pipocas que surgem no Porto. e esta semana recebo a Lifestyle Observador em casa, que areja na sol até hoje, sábado, e me traz aqui agora, a um pequeno-almoço reflectido.

No ikea vi loiças lindas, fora do branco raso que por prática sempre tive - arrisco mais nos copos, mas nos ladeiros sempre fui cuidadosa, porque a comida fica mal no rosa, porque o peixe não se arranja bem em relevos, porque se partir não tenho mais, porque são um dinheirão, porque já tenho 3 serviços bons, enfim, uma série de desculpas parvas que se vão tornando ridículas perante tanta oferta a preços razoáveis. Não trouxe nada senão umas taças para cereais porque preciso mesmo. Tento cada vez mais consumir menos, apenas o necessário e tenho ainda 10 pratos para partir antes de ter um serviço de dia-a-dia novo. 

E esta semana comentava com a C. e com a minha Mãe que, leiga como sou em assuntos epidemiológicos, creio que o problema se agravou no Porto porque somos gente mais de casa, de comunhões e almoços de domingo. que estávamos todos fartos de planos adiados e de não poder abraçar os avós e estar com os amigos em jantares que duram até tarde e se fazem em casa. apertados e sem máscaras, despreocupados por umas horas, matar saudades. suponho que tenha sido isso, era o que eu faria. portas de casa abertas, mesas postas de improviso e coisa nenhuma senão saudade. e conversas até tarde à volta da mesa, porque há tanta coisa que queremos dizer...

este fim de semana íamos ao Porto, festejar a Avó N. e foi de coração pequeno que decidimos não ir. não arriscar o isolamento imaculado que têm feito. não dar o abraço, não estar na mesa, ainda que longe e de máscara. 

sexta caio na cama com a enxaqueca do costume e sábado acordamos para uma luz bonita, livros na mão e pequeno almoço na varanda. e o meu livro é a revista do Observador - linda, como sempre, cuidada e exuberante. e folheio as páginas que nos falam da arte da mesa, feita em português. e vejo nas letras claras os preços de tudo, e vejo mesas lindas mas vazias. e penso para mim, e agora para vocês, que a arte da mesa é mesmo gente e amor. que com um pano ainda com bainha por fazer, pratos rasos brancos e copos do Lidl, com compota caseira da Avó N. e panquecas do A., as mesas ficam mais bonitas que qualquer uma destas da revista. não tirando beleza e mérito a tudo o esta edição nos oferece, a arte da mesa é gente e é amor. e a capa da revista. 






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