#vermelhoembelem
nunca fui pessoa de discutir política. sofro talvez de um síndrome pós-traumático na adolescência, em que vi nos jotinhas uma diversão, em que me desfiliei de um partido e perdi um amigo por isso (fraca definição de amizade, aprendi eu nessa altura).
depois disso, estúpida, fui crescendo a leste de tudo, no meio, moderada e pouco interessada, quase ignorante. com vergonha digo que deleguei muitas vezes a responsabilidade que é um voto. e isto não me incomodava particularmente porque era irresponsável mas também porque tudo tem sido moderado, tudo é uma democracia saudável. o governo e a oposição, um presidente. um triangulo que se tem mantido equilibrado. não digo justo porque nunca o é, seja de esquerda ou de direita.
tenho uma válvula qualquer daquelas que sai do coração que não bombeia tão bem quanto as outras, não decorei mais nada senão que era do lado esquerdo. tenho um desvio do útero para a esquerda e o ceptro esquerdo tão marado que a cotonete covid não entra bem. tenho o olho esquerdo mais fechado que o direito e o ouvido esquerdo inundado. todo o meu corpo parece tombar para a esquerda, e eu na verdade tenho as ideias mais à direita, sempre a tentar manter o equilíbrio.
já falei algures aqui da veia política que se achava que eu tinha, e no parágrafo seguinte do minha total incompatibilidade com corrupção e bajulanço, pelo que não me ía dar bem. quem me conhece sabe que não discuto política, nunca. portanto o facto de eu discutir ultimamente é já estranho, o facto de eu escrever sobre o assunto é um acto de desespero quase.
sempre fui este morno ideológico em que me identifico com ideias e ideais dos dois lados, em que vejo coisas boas e coisas más em tudo ou em todos. nunca fui fervorosamente contra nem a favor. até hoje. até estas últimas semanas em que vejo tudo a descambar num declive que desce a níveis inaceitáveis. como o daquela surreal história da extracção dos ovários a mulheres que abortassem que me tinha estragado o dia. mas achei - lá está - passivamente, que vozes de burro não vão longe. mas isto não é um burro, é uma víscera falante, um espinho com olhos, que diz coisas e defende coisas que me causam um sentimento que tive poucas vezes na vida, repulsa. é muito mais que irritação ou desprezo, é repulsa e até algum medo.
medo que vá mais longe, medo que continue a ser ouvido. sei que não ganha, mas isso, para variar da minha carreira de inércia política, desta vez não me basta. chega de facto. desta vez falo.
por motivos óbvios não ando de batom vermelho, por isso quando o uso é sempre um statement (muito embora me aperceba que das poucas ocasiões registadas, uma é a cara deste blog). o statement evoluí e agora é também este #vermelhoembelem. não interessará em quem voto, mas quero que se saiba que não voto nele. preciso que se saiba que não consigo entender como se vota num ser com tanta maldade em si. mais aquela merda daquele dedinho em riste. isto é sério, é preciso ajuda a contrariar a ideia de que projectos como este podem chegar tão longe como a um banco de cozinha na porta traseira de uma democracia.
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