do que já foi feito

um dia (minto: vários dias) sonhei que podia ser escritora, já delirei sobre isso antes. e vejo programas e leio crónicas e livros e biografias sobre quem escreve e parece haver toda uma empreitada que se exige a quem debita palavras com autoridade. como um curso, um estudo, uma leitura de milhares de livros, um trabalho que se tem que fazer. e aos poucos vou deixando cair no fundo a ideia de que isso vai acontecer. quando não consigo pegar num livro e levar até ao fim, quando leio aquilo que eu já escrevi algures mas ninguém leu, quando me revejo nas obras de outros. a cada passo perco o lanço, por muitas razões, mas também por teimosia e desânimo... 

eu queria brotar palavras lindas (ou não) e úteis (ou não) e sensatas (ou não) e agradáveis de ler (sempre porque ninguém vinha obrigado) só porque sim, porque não poderia ser de outra forma senão essa espontânea e genuína. saber que textos que nascem de impulsos não passam de um blog desanimou-me. saber que tinha que trabalhar na escrita, estudar e dedicar-me mais ainda trava-me, porque não tenho mais as forças para isso. ocupa-me o dia assim como é, sem ambições de voos mais altos que isto. não tenho sequer o tempo para ler tudo o que quero, e sim, não tenho a cabeça arejada que chegue, não tenho plena posse dos meus pensamentos nem tão pouco controlo as palavras. 

e depois a cobardia, a de saber que os clichês e mottos não passam de frases parvas (mas bonitas) que nos desfazem os dias e os sonhos. she believe she could , so she did... my ass! pois não tenho a certeza de que o conseguiria, nem tão pouco a presunção de achar que o saberia fazer. não há uma força dentro de mim que me grita que faça o que ainda não foi feito, há uma voz fracota que me murmura que leve o dia até ao fim, que isso já não é nada mau. 



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