das notas
Hoje devia ter reforçado o treino. Estou com demasiada força no corpo para a impaciência que tenho na cabeça. Um dos putos vai acabar a apanhar a sério. Vai ser uma cena. São ameaças de que vão todos para a cama, de que se não quer ser mais meu filho (todos os dias me diz isto, a razão diz-me para desvalorizar mas nem sempre sou razoável...) vou pô-lo porta fora e deixá-lo chorar no corredor até achar que os vizinhos talvez se incomodem. De que rapo os cabelos se voltam a estar à frente dos olhos e de que lhes dou banho em soro se voltam a pôr o ranho dentro e não fora do nariz. Até já a empregada mandei calar: quem quem manda aqui sou eu (chata da mulher que não se cala e tem uma voz horrenda!)
Dói-me a garganta de ralhar, dói-me a mão de duas palmadas num rabo que já foram, dói-me o coração porque se alguém me visse agora ia achar que odeio os meus filhos. Dói-me alma porque a minha filha veio com um Não Satisfaz para casa (nem sequer tinha percebido o que isso é pelo ar de contente com que o disse). E cada vez que olho para esta folha maldita assumo que aquela é a minha nota. Fui eu quem teve má nota e chumbou. A falha também é minha.
Agora está ali, inocente da vida a refazer o teste. Bem lhe posso explicar que o que isto significa é que fica para trás, que muda de escola, que é má aluna. Não quer saber, não sabe como querer saber ainda, acho.
Eu nunca fui excelente aluna, mas levei muitos Não Satisfaz para casa. E hoje abateu-me a mesma vergonha, o mesmo remorso de não ter estudado mais, a mesma frustração de não perceber, o mesmo que sentia há 25 anos atrás. Esta falha também é minha. É da impaciência, é da falta de atenção, é de ser ou demasiado benevolente ou demasiado exigente? É de estudar com ela ou é de mandar estudar e deixá-la sozinha? E nós julgávamos que a dificuldade era Matemática e ela traz um Bom! Ah, A culpa é da %$#& da Matemática que nos distraiu do Português!
Eu não sei ler os meus filhos, a miúda não sabe interpretar um texto, fair enough... E agora mais do que nunca queria que ela não fosse tão parecida comigo e eu não queria ser tão parecida com a minha Mãe nisto (porque me lembro bem do que era estudar com a minha Mãe).
Entretanto acalmou tudo. Vou deitar os rapazes, corrigir o teste com a miúda e amanha tentamos todos ser melhor.
Dói-me a garganta de ralhar, dói-me a mão de duas palmadas num rabo que já foram, dói-me o coração porque se alguém me visse agora ia achar que odeio os meus filhos. Dói-me alma porque a minha filha veio com um Não Satisfaz para casa (nem sequer tinha percebido o que isso é pelo ar de contente com que o disse). E cada vez que olho para esta folha maldita assumo que aquela é a minha nota. Fui eu quem teve má nota e chumbou. A falha também é minha.
Agora está ali, inocente da vida a refazer o teste. Bem lhe posso explicar que o que isto significa é que fica para trás, que muda de escola, que é má aluna. Não quer saber, não sabe como querer saber ainda, acho.
Eu não sei ler os meus filhos, a miúda não sabe interpretar um texto, fair enough... E agora mais do que nunca queria que ela não fosse tão parecida comigo e eu não queria ser tão parecida com a minha Mãe nisto (porque me lembro bem do que era estudar com a minha Mãe).
Entretanto acalmou tudo. Vou deitar os rapazes, corrigir o teste com a miúda e amanha tentamos todos ser melhor.
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